Entdecken Sie Millionen von E-Books, Hörbüchern und vieles mehr mit einer kostenlosen Testversion

Nur $11.99/Monat nach der Testphase. Jederzeit kündbar.

A METAFÍSICA DE IFÁ: O I CHING AFRICANO
A METAFÍSICA DE IFÁ: O I CHING AFRICANO
A METAFÍSICA DE IFÁ: O I CHING AFRICANO
eBook480 Seiten5 Stunden

A METAFÍSICA DE IFÁ: O I CHING AFRICANO

Bewertung: 0 von 5 Sternen

()

Vorschau lesen

Über dieses E-Book

O Oráculo é o principal instrumento de comunicação com o mundo espiritual na tradição do Candomblé. Profundamente convictos da superioridade da condução espiritual, os iniciados nessa tradição fazem perguntas às divindades antes de tomar qualquer decisão importante na vida. No Brasil, o oráculo mais popular é o Merindilogun - o Jogo de Búzios; já na África, é o tradicional Antigo Oráculo de Ifá. Esse último é um dos jogos de divinação mais antigos do mundo; praticado com caroços, ossos ou conchas. É um oráculo complexo, e no Ocidente sua prática é considerada praticamente impossível. O Antigo Oráculo de Ifá fascina as pessoas por sua clareza, profundidade, proximidade à vida cotidiana e otimismo. Acredita-se até mesmo que ele seria o precursor do oráculo chinês I Ching. O presente livro propõe uma nova interpretação metafísica do Antigo Oráculo de Ifá, para torna-lo acessível a todas as pessoas.
SpracheDeutsch
Herausgebertredition
Erscheinungsdatum18. Mai 2017
ISBN9783743927094
A METAFÍSICA DE IFÁ: O I CHING AFRICANO

Mehr von Tilo Plöger lesen

Ähnlich wie A METAFÍSICA DE IFÁ

Ähnliche E-Books

New Age & Spiritualität für Sie

Mehr anzeigen

Ähnliche Artikel

Rezensionen für A METAFÍSICA DE IFÁ

Bewertung: 0 von 5 Sternen
0 Bewertungen

0 Bewertungen0 Rezensionen

Wie hat es Ihnen gefallen?

Zum Bewerten, tippen

Die Rezension muss mindestens 10 Wörter umfassen

    Buchvorschau

    A METAFÍSICA DE IFÁ - Tilo Plöger

    PREFÁCIO

    Os questionamentos sobre a essência da vida e sobre o futuro pessoal são tão antigos como a própria humanidade. Ambas as temáticas estão relacionadas, pois não é possível fazer um diagnóstico do estado inicial sem primeiro entender o que mantém o mundo unido e o que é característico do ser humano. E sem compreender o estado inicial, não é possível criar um modelo que seja capaz de enxergar todas as relações que determinam o futuro. Portanto, ninguém é capaz de fazer uma declaração fiável sobre o futuro sem entender a essência da vida.

    As questões sobre a essência/o ser perseguem o ser humano desde os princípios da Era Egípcia. Haveria uma essência permanente e imutável em todas as vidas, ou algo semelhante a ela? Se a resposta for positiva, como ela poderia ser descrita e como poderíamos encontrá-la? Seria ela uma manifestação do mundo espiritual – devendo, portanto, ser descrita de forma qualitativa –, ou estaria mais sujeita às leis da Física, que podem ser descritas matematicamente? Sem dúvidas, nas fases primordiais da Filosofia, a humanidade acreditava em um princípio espiritual. A teoria dos elementos teria sido, portanto, uma das primeiras tentativas de descrever as possíveis características dessa essência.

    Os métodos intuitivos de prever o futuro existem desde a Pré-História. Ao longo dos anos, e no âmbito de diferentes culturas, eles foram ampliados ou em parte complementados com métodos objetivos de interpretação de símbolos. É provável que a questão do futuro tenha precedido a questão da essência, conduzindo-nos a este seguinte dilema imprescindível. Na busca de uma fórmula universal, os modelos de diagnóstico e prognóstico se tornaram no decorrer dos séculos cada vez mais abstratos e quantitativos. Surgiram novas linhas de pensamento, como as da Matemática, da Física e da Economia, que serviram como fundamento teórico para a interpretação de símbolos. Quanto mais complexos esses modelos ficaram, mais suas interpretações necessitaram ser completadas com a experiência e a intuição, para que as descobertas realmente úteis pudessem ser extraídas dessa sabedoria.

    Até hoje, nenhum modelo foi capaz de representar a realidade – com exceção de alguns ramos limitados da Física –, e menos ainda de prever o futuro. A história do diagnóstico e do prognóstico é um ritual que se repete, um ritual cíclico em que novos modelos são celebrados, e os mais antigos demonizados. Ao mesmo tempo, as ideias antigas sempre são resgatadas e reformuladas.

    Analisando o passar dos milênios, pode-se distinguir três escolas de pensamento do diagnóstico e do prognóstico, que hoje coexistem:

    1. As inspirações divinas de caráter intuitivo, subjetivo e empático, como o Oráculo de Delfos ou as consultas xamânicas aos espíritos;

    2. Os sistemas de interpretação de símbolos de caráter objetivo, analítico e espiritual, como os oráculos do I Ching e de Ifá;

    3. Os sistemas de interpretação de símbolos de caráter objetivo, analítico, baseados na experiência e na observação, como as modernas análises de gráficos da bolsa de valores e os diversos modelos econométricos.

    À primeira vista, tendemos a pensar que a Ciência e o ser humano da modernidade se sustentam principalmente nos modelos numéricos (também os números são símbolos). Entretanto, isso está longe de ser verdade. A Ciência emprega perfeitamente métodos subjetivos – veja o exemplo do método Delphi de pesquisa de especialistas. A humanidade está vivendo um renascimento intenso de muitas técnicas de divinação, como o Tarô e o I Ching. As três escolas de pensamento e suas respectivas técnicas coexistem lado a lado, justamente por serem indispensáveis e porque nenhuma das três dimensões parece ser capaz de responder sozinha às questões sobre a essência do ser humano ou o futuro.

    O renascimento das descrições qualitativas do mundo é um processo natural em um mundo cada vez mais quantitativo. As pessoas sentem que todos esses algarismos, modelos numéricos e mensurabilidades mais bem reduzem o campo de visão, limitando seu tempo, do que conduzem a novas visões ou inovações. Nenhum algarismo ou método de medição teria sido capaz de prever a evolução do cavalo ao automóvel, menos ainda de causar essa mudança. Nenhum número é capaz de realizar a renovação da democracia, que é tão necessária. Para isso, é necessário que haja novas visões e criatividade, ou seja, dimensões qualitativas capazes de descrever, de idealizar a vida e a existência.

    O renascimento da previsão do futuro de caráter qualitativo é também um resultado do desejo do ser humano de vivenciar a espiritualidade e a mística. Muitas pessoas se sentem conectadas espiritualmente a algo – seja a Natureza, Deus, ou qualquer outro conceito que represente isso –, mas não querem estar sujeitas às instituições. As religiões e igrejas arrastam uma pesada carga histórica e são na maioria das vezes dogmáticas. Para poder expressar sua espiritualidade, as pessoas buscam cada vez mais as tradições alternativas, sejam elas novas ou antigas. E com isso elas tentam descobrir seus próprios métodos de interpretar os aspectos espirituais do mundo, seja no âmbito pessoal ou global. As questões do destino pessoal e da condução espiritual estão cada vez mais presentes na consciência coletiva.

    Ao perguntarem ao Dalai Lama, em uma entrevista, sobre suas fontes de sabedoria, ele respondeu, humildemente, que se apoia em três pilares antes de tomar uma decisão: na sua intuição e experiência pessoal, nos especialistas e intérpretes das análises objetivas, e também no Oráculo Nechung do estado tibetano.

    Seja como for, a realidade, a verdadeira essência das coisas, sempre se manterá inalcançável. Já Platão havia descrito a realidade como uma mera sombra na parede. É por isso que todos os modelos de interpretação da realidade são apenas modelos com premissas específicas.

    A realidade é constituída por muitas qualidades e algumas quantidades; por muita subjetividade, relatividade e pouca objetividade. Portanto, é lógico, e até mesmo sensato, pensar que os três pilares que Dalai Lama mencionou se manterão vivos, sustentando as previsões e as tomadas de decisão. Sabiamente, as três formas de interpretação continuarão a existir lado a lado.

    Entre os sistemas de interpretação mais antigos, que sobreviveram aos séculos, demonstrando ter um valor duradouro, destacam-se o I Ching, praticado na Europa e na Ásia, e o sistema de Ifá, na África e em algumas regiões da América do Sul. Os dois sistemas existem há milênios e possuem estruturas muito semelhantes. Não é à toa que alguns livros já especulam que o sistema de Ifá, supostamente o mais antigo, possa ter dado origem ao I Ching. Com o comércio, o oráculo africano pode ter chegado à Ásia – antes ou durante a era da Civilização Egípcia – onde teria sido simplificado e finalmente reinterpretado filosoficamente de forma mais ampla.

    Evidentemente os dois sistemas se baseiam em um código binário, que aparenta ter se desenvolvido a partir de questões simples de sim/não. O sistema de Ifá evoluiu sistematicamente a partir da multiplicação da polaridade (2-4-16-256); já o sistema do I Ching foi transformado por um antigo aprendiz em um sistema de trigramas e hexagramas. Apesar dessas diferenças, os dois sistemas possuem os mesmos elementos básicos. Ambos eram praticados antigamente com materiais naturais (o milefólio e o Obi, também conhecido como noz-de-cola) e, posteriormente, passaram a ser jogados com moedas de pagamento (moedas na China e búzios na África).

    Os sistemas oraculares do I Ching e de Ifá evoluíram por caminhos diferentes. O I Ching foi abstraído, ganhando uma base filosófica, reivindicando o posto de uma doutrina universal que guarda respostas para todos os fenômenos. O I Ching foi registrado por escrito, tornando-se um modelo mundialmente popular de explicação e interpretação do mundo. Por sua vez, o sistema de Ifá manteve sua estrutura tribal e continua sendo, em larga medida, um modelo de divinação transmitido oralmente. Devido às situações reais do contexto de vida na África, esse modelo enfoca os problemas do cotidiano, através de seus milhares de versos. Ainda hoje, ele continua a ter um foco na prática, fornecendo instruções bem concretas. Esse sistema tem uma ligação muito forte com a tradição espiritual.

    Conceitualmente, o sistema de Ifá é hermeticamente mais correto do que o sistema do I Ching, por distinguir de forma clara seus elementos básicos constitutivos – as estruturas e as qualidades (ver mais abaixo) –, e por manter sua regra de diferenciação através de potências de dois. Esses são alguns dos motivos pelo qual o I Ching necessita incluir, além dos quatro elementos básicos já conhecidos, outros elementos de apoio, como a Montanha, o Lago, o Trovão e o Vento. Já o sistema de Ifá funciona com os quatro elementos básicos – a Água, a Terra, o Ar e o Fogo.

    Outra vantagem do sistema de Ifá é sua orientação prática, já que esse oráculo, como já foi dito antes, fornece às pessoas instruções bem concretas. Além disso, esse sistema tem uma proximidade com a mitologia que costuma ser bastante coerente, facilitando a prática de rituais de magia. Suas instruções não se limitam ao plano do conhecimento – elas vão mais além, permitindo que o futuro seja ativamente influenciado através de rituais mágicos.

    Finalmente, o fundamento mitológico de Ifá também é muito útil para a compreensão e interpretação das polaridades, dos campos de tensão e das forças que exercem influência sobre os caminhos. Esse aspecto não está ancorado no I Ching. Entretanto, nos séculos mais recentes houve uma tentativa de incluí-lo nessa tradição, já que ambos os oráculos compartem os mesmos elementos básicos: as possibilidades, os caminhos e as mutações de uma estrutura em outra (os hexagramas no I Ching e os Odus em Ifá). As forças que exercem influência sobre esses caminhos só podem ser enxergadas quando são relacionadas às polaridades internas do ser humano em sua correspondência espiritual. Para isso, é necessário contar com um fundamento espiritual, um fundamento mitológico. No sistema de Ifá, os 16 Orixás – as divindades como correspondência espiritual do mundo interior do ser humano – respondem através de seus respectivos Odus – os caminhos. O I Ching não possui esse nível divino de correspondência espiritual do ser humano. As tradições mais recentes, como o Taoísmo, incluíram elementos espirituais em suas interpretações, mas o I Ching não possui um aspecto holístico como o Ifá.

    Apesar dessas vantagens, o Ifá tem duas grandes desvantagens. Em primeiro lugar, esse sistema nunca foi registrado sistematicamente por escrito. Não existe um padrão de técnica para esse oráculo, nem para sua interpretação. Em segundo lugar, esse sistema jamais foi abstraído e estruturado sobre bases herméticas e filosóficas. Ainda hoje, para praticálo, é necessário conhecer milhares de Itans – os versos de Ifá –, que contêm interpretações e ao mesmo tempo instruções. Sendo assim, não é possível interpretar os Odus de forma abstrata.

    Essas duas desvantagens limitam bastante a prática desse oráculo milenar, tão único e valioso. Pode-se, portanto, observar as seguintes características no Oráculo de Ifá:

    ●A prática desse oráculo permanece restrita aos sacerdotes iniciados na tradição, que conhecem de cor os milhares de versos. Dessa forma, o oráculo como sistema de interpretação não pode ser praticado por uma pessoa comum;

    ●A prática desse oráculo pode durar horas ou até mesmo dias. Isso é um grande empecilho para sua prática e difusão no mundo atual, que requer tanta velocidade;

    ●É quase impossível discutir e analisar filosoficamente esse sistema. Sem um registro por escrito ou um fundamento claro não é possível desenvolver o lado metafísico desse oráculo. As interpretações dos versos podem dar muitas instruções para uma vida virtuosa, mas dão poucos conhecimentos abrangentes sobre o próprio mundo;

    ●Os fundamentos herméticos do Oráculo de Ifá nunca foram interpretados filosoficamente. Jamais foi expressa uma ambição de definir uma teoria unificadora que decodifique o mundo através desse oráculo. Ao longo dos milênios, com seus inúmeros versos, o Oráculo de Ifá tornou-se muito místico, físico, próximo a situações reais e concreto, e permaneceu assim. Diferentemente do que ocorreu na China, jamais foi feita uma abstração filosófica do Oráculo na África.

    Essas limitações restringem a prática do Oráculo de Ifá ao continente africano. Embora as mensagens dos Itans ainda tenham um papel significativo na mitologia do Candomblé (no Brasil), da Santería (em Cuba) e do Voodoo (na Jamaica), o Oráculo de Ifá já foi substituído nessas tradições pelo Merindilogun – um oráculo mais rápido e mais fácil, que se refere a temas bastante concretos da vida cotidiana. O Merindilogun abrange temas concretos do cotidiano; ele se orienta em buscar soluções para questões do presente que afligem as pessoas que necessitam um apoio de vida.

    A efetiva morte do Oráculo de Ifá desencadeia uma paralisação do desenvolvimento filosófico e mitológico de uma tradição que se sustenta somente em versos antigos transmitidos de forma oral. Essa tradição não tem um fundamento que viabilize uma evolução metafísica.

    Uma revitalização do Antigo Oráculo de Ifá deve ser feita com um acréscimo: uma redescoberta de sua dimensão metafísica. No entanto, isso só pode ser feito se os fundamentos e as regras de interpretação forem definidos. A abstração do Oráculo de Ifá abre dimensões totalmente novas de conhecimento, trazendo novas formas de interpretações e novos conhecimentos espirituais. Com isso, um debate espiritual ou simplesmente filosófico sobre o código genético da vida poderia ser resgatado.

    O objetivo deste livro é recuperar os princípios herméticos desse incrível oráculo, para complementar a prática do jogo, e não para substituí-la. Mais além de tornar-se praticável e interpretável, o Oráculo de Ifá deve, sobretudo, ser imaginável novamente, e aberto para a evolução do conhecimento. E, finalmente, ele deve tornar-se acessível para todas as pessoas que queiram consultar seu instrumentário de diagnóstico e prognóstico, que tanto auxilia na tomada de decisões.

    Orientei-me em quatro dimensões para resgatar os princípios herméticos do Oráculo de Ifá:

    1. No Oráculo chinês do I Ching, por ser uma forma muito semelhante de oráculo, adotado por muitos eruditos ao longo dos séculos e cujos princípios universais já deram provas de sua validade;

    2. Em conceitos e modelos básicos da Filosofia de valor histórico reconhecido. A presente análise almeja dar início à interpretação filosófica do Oráculo de Ifá. A meta deste livro não é interpretar o mundo de acordo com o Oráculo, mas sim interpretar os princípios que o regem. Para que o Oráculo de Ifá se consolide como um instrumento filosófico, é necessário que ele seja analisado em relação à própria Filosofia. Dessa forma, poderemos saber onde ela se reflete no Oráculo;

    3. Nas leis herméticas em especial. A consistência e a universalidade são indispensáveis para um sistema que reivindique ter decifrado, espiritualmente ou não, o código universal. Todos os elementos desse sistema devem ser claramente diferenciados. Além disso, é necessário que os princípios herméticos universais sejam respeitados. Convém sublinhar que neste ponto entende-se por hermetismo o lado espiritual e metafísico da interpretação;

    4. Nos princípios do Ifismo africano. Naturalmente, a ampliação do sistema deve manter-se compatível com os princípios fundamentais da tradição iorubá do Ifismo. Ainda que a interpretação metafísica represente a liberação de crenças religiosas a favor de princípios universais, o Oráculo de Ifá deve manter-se inteiramente conectado à prática da magia ritual.

    A Metafísica de Ifá não pretende ser uma analogia do Livro das Mutações do I Ching. Não é o objetivo deste livro interpretar todos os 256 Odus, em todas as posições. Isso excederia o tempo e o espaço disponíveis, além da minha própria capacidade de abstração filosófica. Este livro é uma ferramenta para que qualquer leitor ou iniciado na tradição possa ser capaz de jogar o Oráculo e interpretá-lo à sua maneira. Além disso, pretende-se também fomentar um debate contemporâneo entre os especialistas do Ifismo, especialmente os Babalorixás, as Yalorixás e os Babalaôs, sobre essa tradição tão rica. Recomenda-se a leitura dos demais livros desta série aos leitores e leitoras que queiram aprofundar-se na tradição mitológica, no Oráculo Merindilogun, como também nos sistemas numerológicos do Ifismo. Aos interessados na prática concreta e cotidiana do Oráculo, recomendo o conhecimento da mitologia. Para isso, não é necessário aprofundar-se em todos os níveis filosóficos – a compreensão do Oráculo também é possível sem um conhecimento detalhado das teorias filosóficas. As pessoas interessadas nas questões sobre o sentido, que queiram aprender sobre a metafísica de Ifá, encontrarão estímulos, ideias e propostas para interpretações e aprofundamentos no capítulo, um tanto mais complexo, sobre a filosofia.

    * * *

    Quem somos, os autores que reúnem o conhecimento neste livro?

    Eu, Tilo Plöger, sou brasileiro. Minha família emigrou com visões empreendedoras da Alemanha para o Brasil em 1880. Depois de comple-tar o ensino médio, fui para a Alemanha, onde estudei Química e tam-bém Administração de Empresas. Durante muitos anos, fui diretor de empresas internacionais, ligadas especialmente a conceitos alternati-vos relacionados à Saúde e Beleza, cosméticos naturais, medicina natural etc. Ao mesmo tempo, ainda que vivendo num mundo de negócios orientado pelo objetivismo e centrado nas pessoas, estudei durante mais de 25 anos as faces espirituais e científicas de diversas tradições espirituais e fui até mesmo iniciado em algumas delas. Sou mestre de Reiki, concluí os ensinos xamânicos de Alberto Villoldo, me dediquei à Alquimia, aos esoterismos e às Escolas de Mistério do Ocidente, ao tantra, ao trabalho dos chacras e meridianos, à Medicina da Informação, ao trabalho das luzes e à Filosofia Quântica, entre outros ensinamentos. Meu objetivo central sempre foi conectar as experiências espirituais às científicas. Encontrei meu lar espiritual e meu destino no Candomblé e na Umbanda. Fui iniciado e formado nessas duas tradições, como também na tradição do Oráculo de Ifá (na medida do possível e com suas limitações) por meu amigo Pai Marcos de Jagum. Essa tradição é restringida somente aos homens.

    Eu, Marcos de Jagum, fui iniciado no culto Nagô com um ano de idade. Iniciei minha caminhada na Umbanda aos dez anos, e me tornei Babalorixá aos 18 anos, na nação de Keto, com a raiz da Casa Branca, em Salvador da Bahia. Inicie meu Ilê Axé há quase 20 anos. Desde então, dedico minha vida à pesquisa e ao estudo da lei, das tradições e do culto afro.

    O objetivo de nossa jornada é ampliar e aprofundar o conhecimento da raiz do Oráculo de Ifá. Sabemos que nosso caminho apenas co-meçou, e que o presente resultado nada mais é do que uma primeira síntese.

    Desejamos a todos os leitores muita sabedoria e experiências que iluminem um pouco mais a existência e a ação do amanhã.

    Tilo Plöger e Marcos de Jagum, 2017

    Para questões pessoais e aprofundamentos, o leitor poderá contatar-nos da seguinte forma:

    Fraternitade Umbandista

    Irmãos Unidos na Fé

    Casa do Cabolco Pena Branca

    Estrada da ilha de Guaratiba, 673

    Caminho da Augusta casa 13

    Ilha de Guaratiba-Rio de Janeiro

    Brasil CEP 23020_230

    Tel +55 (21) 964573524

    DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO

    A necessidade do ser humano de entender a essência do Universo e interpretar o futuro a partir desse conhecimento é tão antiga quanto a própria humanidade. Possivelmente, com a religiosidade, surgiu também a questão da vida após a morte e, consequentemente, do futuro. Se considerarmos o enterro dos mortos como uma prática típica da espiritualidade, podemos registrar seu surgimento por volta de 100.000 anos atrás, já que as descobertas da caverna Qafzeh, nos arredores de Nazaré, datam dessa época.

    A arte rupestre das primeiras práticas xamânicas pode ser vista como fruto do estágio inicial do desenvolvimento da interpretação e da abstração. As pinturas rupestres mais antigas têm quase 50.000 anos e foram descobertas na Austrália. Essas e outras descobertas mais recentes sugerem que as ligações com o mundo espiritual são muito antigas.

    Um conhecimento seguro sobre os sistemas de prognóstico dos nossos antepassados começou a ser registrado apenas a partir da invenção da escrita. Os primeiros indícios existentes são da Mesopotâmia e do Egito e têm mais de 5.000 anos. Na China, os primeiros indícios têm por volta de 3.500 anos e, na América do Sul, chegam a ter quase 3.000 anos.

    Em conformidade com Cícero, Platão distingue entre a adivinhação natural e a adivinhação artificial. A primeira é uma divinação que as pessoas têm em sonhos, em transe e em visões. Ela seria uma inspiração direta dos deuses. A segunda é alcançada a partir de técnicas e métodos que o ser humano desenvolveu para decifrar as mensagens dos deuses. Entre essas técnicas, estariam as interpretações dos sinais da natureza, como a observação dos pássaros ou das estrelas, e também dos sinais humanos, como as moedas ou os ossos.

    Nessa estrutura, os dois sistemas se diferenciam com base nas seguintes características:

    ●Intuitivo vs. analítico;

    ●Endógeno vs. exógeno;

    ●Subjetivo vs. objetivo;

    ●Divinatório vs. empírico;

    ●Inspiração vs. experiência.

    Christof Niederwieser distingue três métodos de prognóstico com base nas fontes e no canal do conhecimento de cada um. Eles correspondem aproximadamente à evolução dos métodos ao longo do tempo:

    1. O prognóstico visionário, que se baseia na intuição e inspiração. O canal aqui é o ser humano;

    2. O prognóstico interpretativo de sinais. Ele se baseia na interpretação de sinais como manifestações materiais. O canal aqui é a natureza;

    3. O prognóstico interpretativo do tempo. Ele se baseia na interpretação da morfologia do transcorrer do tempo. O canal aqui é o tempo.

    Para mostrar resumidamente a diversidade e a profundidade dos prognósticos, eis a seguir uma síntese de alguns exemplos dados por Christof Niederwieser em suas duas obras sobre o prognóstico:

    1. Os prognósticos visionários:

    ●Obsessão e transe. O Oráculo Nechung do estado tibetano, o Oráculo de Delfos, as técnicas de transe (tocar tambores, entre outras);

    ●Visões alcançadas através das drogas. Drogas xamânicas provenientes da América Latina (a Ayahuasca, o cacto San Pedro, o tabaco, a coca) e do velho mundo (o ópio, a maconha, o cogumelo mata-moscas);

    ●A necromancia (comunicação com os mortos). A invocação de Anúbis no Egito, a invocação dos mortos de Agripa, o culto aos antepassados na África, o Espiritismo e o animismo da modernidade;

    ●Os sonhos proféticos. A interpretação dos sonhos na Babilônia e no Egito, a oniromancia dos gregos e romanos, a interpretação dos sonhos no Extremo Oriente, os sonhos visionários da Parapsicologia;

    ●A precognição. A clarividência, a telepatia;

    ●A missão profética e os mitos do futuro. Os deuses brancos dos Astecas e Hopis, a missão profética no Antigo Testamento, os Livros Sibilinos de Roma, as profecias de Da Vinci, Colombo, Nostradamus, o apocaliticismo da Bíblia, as aparições milagrosas cristãs;

    ●Utopias e visões sociais. A Politéia de Platão, o comunismo e o marxismo, a Cidade do Sol de Tommaso Campanella, a Utopia de Thomas Morus;

    ●Livros sobre o futuro e obras de ficção científica. A viagem à Lua de Kepler, Wilkins e Cyrano; Frankenstein, o Homem-Máquina; Jules Verne; H.G. Wells; as distopias de Huxley e Orwell;

    ●A Futurologia moderna. A Economia e a Sociologia; a Futurologia de Flechtheim; as previsões de Herman Kahn e da RAND Corporation; o Clube de Roma; a avaliação do impacto tecnológico; os grupos modernos de reflexão;

    ●Métodos modernos qualitativos de previsão. A Tempestade de Ideias (brainstorming); a Oficina do Futuro (Zukunftswerkstatt), a Sinética (Synetics); o estudo com novatos; o estudo com especialistas; o Método Delphi; as caixas morfológicas de Zwicky; a análise dos impactos cruzados; a árvore de relevância e de decisão; o prognóstico rizomático; a técnica de cenários; o método sinótico e os fatores decisivos (shaping factors); as megatendências;

    2. Os prognósticos interpretativos dos sinais e do tempo:

    ●Sinais naturais:

    -Presságios e sinais milagrosos. Sinais celestiais; presságios animais e presságios de nascimento;

    -Sistemas de interpretação de sinais naturais. Sistemas de sinais no céu; os auspícios na Roma Antiga; a interpretação dos elementos e o Feng Shui;

    -Fisiognomia. A interpretação do corpo dos Egípcios e Babilônios; a Fisiognomia da Grécia e da China; a ciência Tridosha da Índia; a Quiromancia; a Frenologia de Gall; os fragmentos de Lavater;

    -As teorias dos três tipos. Os tipos de morfologia corporal ( Naturelle ) de Huter; os tipos de constituição de Kretschmer; os componentes morfológicos de Sheldon;

    -A interpretação do corpo da era moderna. A análise dos cromossomos; a arte de ler o rosto; a linguagem corporal e a comunicação não-verbal; A Programação Neurolinguística (PNL);

    ●Sinais culturais:

    -Oráculos e ordálios (juízos divinos) da África. O Oráculo dos Azande; o Oráculo do Camundongo e da Areia, praticado na savana da África Ocidental; os oráculos animais de Mali, de Camarões e da Costa do Marfim; os ordálios de injúria; o Oráculo de Elementos, com água e fogo;

    -O Oráculo de Ossos e a hieromancia (divinação a partir das vísceras). A escapulomancia no Tibete e na Sibéria; a hieromancia na Mesopotâmia; os aruspícios dos Etruscos e Romanos; a antropomancia;

    -Métodos variados. O Oráculo dos Cavalos e da Batalha, dos germanos; o Oráculo de Apolo e Hermes, da Antiguidade; o Oráculo da Palavra e das Lamparinas de Manteiga, do Tibete; o Oráculo do Ovo e dos Pardais, da China; a leitura das marcas de chá e de café, a Radiestesia com vareta e pêndulo; a Cinesiologia; a Grafologia;

    -O arquivamento moderno de sinais, através de medições, indicadores, estatísticas. A barra original do metro ( Mètre des Archives ); a medição do tempo; as normas internacionais de padrão IEC e ISO; os indicadores das Ciências Naturais e das Ciências Sociais, como também da guerra; os arquétipos mágicos;

    -Indicadores econômicos e financeiros. A controladoria ( controlling ); os indicadores de desempenho ( Balanced Scorecard ), os indicadores das Ciências Econômicas; os mecanismos de mercado, como por exemplo a curva de Phillips, o barômetro de Harvard, as cotações e os indicadores da bolsa de valores;

    -Pesquisas quantitativas. Os indicadores de sentimento e o barômetro de conjuntura; a pesquisa de consumidores; as pesquisas eleitorais e do Instituto Gallup; os testes de personalidade no diagnóstico de gestão;

    -Indicadores clínicos e a genética. A interpretação do tipo sanguíneo no Japão; o diagnóstico pré-natal da gravidez; a detecção de anomalias cromossômicas através da medicina; a Genética;

    ●Sinais artificiais:

    -Sorteios, os oráculos de objetos lançados e as os motores de resposta. Os sorteios dos Gregos e Romanos; o Oráculo de Amon, do Egito; a psicografia na China;

    -O mundo em miniatura. O Oráculo do Cesto na África; o Oráculo de Chuvaanak, proveniente de Tuva, no sul da Sibéria; os Oráculos de Ifá, dos iorubás;

    -Padrões primários e códigos universais por meio de símbolos, letras e números. O I Ching da China; a numerologia e a mística dos números; as runas germânicas; as letras e os números da Cabala judaica; o Tarô;

    -Os sistemas de previsão e os modelos mundiais da modernidade. Os sistemas de previsão na controladoria; a análise fundamental; a análise técnica de gráficos; os modelos econométricos e a análise input-output ; a modelagem global.

    -O grande volume de dados e os dados inteligentes. O reconhecimento de padrões.

    Conhecer o futuro e a essência de todas as coisas é uma curiosidade que a humanidade tem desde os princípios da espiritualidade. Essa curiosidade sempre existiu e acompanhou as pessoas, em todas as épocas e culturas. Nesse contexto, parece até estranho pensar que os modelos de cálculo modernos, baseados em números e no tempo, não sejam espirituais, pois a relevância do futuro para a humanidade já é uma questão essencialmente espiritual.

    Se traçarmos uma linha lógica da evolução da história do diagnóstico e do prognóstico, podemos identificar pelo menos duas tendências do seu desenvolvimento:

    ●Há uma crescente objetivação, que é fruto da observação, medição e análise de fatores externos;

    ●Há uma crescente abstração e ao mesmo tempo um aumento de complexidade.

    É interessante notar que, com a crescente abstração, a experiência e a intuição ganharam maior relevância. Há muitos dados e ao mesmo tempo tão pouco conhecimento. As empresas que extraem informações valiosas a partir dos dados conseguem ter muito mais êxito economicamente – dois grandes exemplos são Facebook e Google. Por outro lado, as grandes crises bancárias e financeiras não são detectadas por operadores do mercado, ainda que todas as informações necessárias estejam disponíveis.

    Ao mesmo tempo, nota-se que os sistemas complexos requerem o uso de conceitos dimensionais cujas definições se assemelham muito a arquétipos. Isoladamente, eles representam algo superior, algo mais amplo. Essas dimensões – sejam elas números, fórmulas ou conceitos – possuem muitas características, em geral bem definidas, que em conjunto e em interação parecem funcionar como uma unidade. De certo modo, os grupos-alvo do Marketing (gerações X, Y, Z), os grupos com comportamento ou pensamento idêntico das Ciências Sociais e os padrões de comportamento da Psicologia são também arquetipizações.

    Os oráculos mais complexos, como o I Ching e o Oráculo de Ifá, possuem essas mesmas características. A principal diferença é que os sistemas modernos não creem que o mundo material tenha uma correspondência espiritual. Eles creem que as relações causais são observáveis, mensuráveis e se refletem em fórmulas. Mas no fundo, todos os modelos contam apenas uma história. Apesar de termos facilidade em enxergar um fio condutor em relação ao passado de nossas vidas, ainda temos dificuldade em projetar esse fio condutor em relação ao futuro. Às vezes, o limite entre a magia/superstição e a Ciência é um mero manto, apenas uma palavra. Uma pessoa depressiva foi outrora um filho de Saturno; uma pessoa catatônica foi outrora possuída pelo demônio Mehazael (ver Niederwieser). É por isso que os oráculos partem do princípio de que as relações que eles definem também são códigos e fórmulas ainda não convertidos em leis científicas. Tendo isso em mente, para que os oráculos tenham um nível de qualidade, é importante que suas regras de jogo e interpretação continuem a ser definidas com um grau de abstração elevado e consistente. Só assim eles poderão sobreviver as modas da Ciência, adaptar-se aos diferentes sistemas e continuar sendo fontes de sabedoria.

    Analisando a história do diagnóstico e do prognóstico e seu instrumentário, é importante ressaltar que, apesar de sofrer tanto descrédito, foram justamente os oráculos do I Ching e de Ifá que sobreviveram a todos os outros modelos, conduzindo a estruturas sociais e espirituais bastante estáveis. Isso parece ser um sinal de que esses dois sistemas possuem algo que funciona melhor do que muitos outros instrumentos.

    O objetivo deste livro é aprofundar e reascender a metafísica do Oráculo de Ifá. Com a simplificação do jogo e a abstração das regras de interpretação, esse oráculo poderá ser praticado novamente, voltando a ser, sobretudo, uma fonte de sabedoria. A metafísica consistente e abrangente desse sistema enriquece o Oráculo de Ifá. Com ela, ele poderá ser novamente o que na verdade sempre foi: uma doutrina universal.

    O I Ching é abordado neste livro para que, partindo da compreensão de seus princípios, possamos deduzir analogias para o sistema de Ifá. As comparações servem para facilitar a compreensão das semelhanças e diferenças, e não para valorar mais a qualidade de um ou outro oráculo. Ambos vêm provando seu valor há milênios; não será necessário questionar neste ponto a qualidade e o valor desses oráculos para a humanidade – a história já tratou de dar respostas a essas questões.

    O objetivo deste livro não é explicar ou interpretar o I Ching minuciosamente. O leitor interessado nestes detalhes poderá consultar muitas obras de qualidade. A proposta do presente livro é de expor os princípios básicos desse sistema e aplicá-los – onde faça sentido – ao sistema de Ifá.

    IFÁ E I CHING

    Semelhanças e diferenças

    O Ifá e

    Gefällt Ihnen die Vorschau?
    Seite 1 von 1